14 de fevereiro de 2008

Mais uma parte do conto ...

   Mais um mês se passou sem que nada de anormal acontecesse em minha vida. Acordava, ia trabalhar, às vezes assistia a algum jogo de futebol ou saía para beber com os amigos. Nada de diferente. Algumas mulheres olhavam para mim de um modo sensual, mas andava como se estivesse anestesiado, não sentia vontade de chegar perto delas. A maioria devia ter uma idade próxima à minha. Possuíam algumas rugas próximo aos olhos, a boca caída e um olhar triste. Era como se a partir de uma certa idade nada mais importasse, só a pele velha e aquele ar de eterna melancolia. Envelhecer era sempre ruim, mas parecia que para as mulheres o tempo tinha uma ação terrível, ele realmente acabava com elas. Eu não conseguia sentir atração. Apenas ficava compadecido de suas dores, que deviam ser muitas.

   Uma noite após meu expediente fui à um boteco famoso na cidade. Não era um lugar badalado, mas era famoso pelo tempo de existência. Um dos botecos mais antigos e que ainda funcionavam nos mesmos moldes desde a abertura. Atraía velhos como eu e pessoas mais novas. Estava bebendo uísque, sentado ao balcão, quando a moça séria entrou e sentou-se em uma mesa em frente ao bar, com mais duas amigas. E eu que pensei que ela nem bebesse, com aquelas roupas de freira.

   Fingi não vê-la. Ela já havia provado que era dissimulada e eu não fazia questão de continuar tentando. Passado algum tempo, alguém tocou meu braço:

- Veja só, se não é o velho tarado!

- Escute, garota, eu não tenho tempo sobrando para que possa perdê-lo a conversar com tipos feito você.
- Mas que grosseria!
- Grosseria é agir com tanta falsidade quanto você, falsa moça séria. Eu vi algo em você naquele jantar e fui direto ao ponto. Você encheu-se de rodeios e fez tipo de santa em altar. Mas, escute aqui, moça. Já sou velho e sou rodado, não tenho mais tempo para ficar conquistando ninguém. Quis dar o que você queria, mas a moça resolveu esquivar-se, então, se me permite, com licença.

   Paguei minha conta, saí e dirigi-me até o carro. Ouvi passos correndo atrás de mim. Era ela: a moça séria.

- Espere!

- Não posso lhe dar carona hoje, docinho. Vá se divertir com suas amigas.
- Não, espere! Não vá. Desculpe por ter agido daquela maneira. Eu não quis ser estúpida, mas você é bem mais velho que eu e acabei ficando assustada quando assediou-me dentro do carro e mais assustada ainda quando ligou para minha casa. Pensei que pudesse ser um maníaco ou algo do tipo. Mas vejo que é inofensivo.
- Olha moça, eu só achei que debaixo dessas suas roupas fechadas pudesse existir uma mocinha reprimida. Mas vejo que enganei-me a seu respeito. Sou um velho que gosta de sexo, só isso. Não tem tarado nenhum aqui.
- Me perdoe, não achei que fosses ficar tão magoado.
- Não é mágoa não, garota.
- Então aceite minhas desculpas e tome um drink comigo, por favor!
- E o que eu vou ganhar fazendo isso?
- A minha companhia. Prometo que terás uma noite de conversas agradáveis.
- Ok, menina. Lhe darei uma chance.

   Voltamos para o bar. As amigas da moça olhavam-nos com caras assustadas. Elas não entendiam o que a amiga fazia conversando com um velho, com tantos rapazes bonitos e jovens no recinto. Continuamos no bar, passava da meia-noite e resolvi ir para casa. Estava cansado. Aquele bando de garotas não conversava sobre nada de interessante. Falavam sobre outras garotas, falavam de moda, de rapazes. Vez ou outra pediam minha opinião sobre determinado assunto. Mas aquilo havia ultrapassado o limite do tédio. Antes só que ouvindo tamanhas besteiras. Agradeci a companhia delas e dirigi-me ao caixa. Carolina, a moça séria, seguiu-me e pediu uma carona. Como ela havia sido gentil, resolvi retribuir. Estava sentindo-me o pai de uma daquelas garotas. Senti-me acabado e velho.

   Durante o trajeto até a casa da menina ela voltou a provocar-me. Era visto que havia bebido demais. Lambia os lábios, jogava beijos para mim, até abriu dois botões da blusa e deixou o colo à mostra. Eu lhe disse que parasse ou eu não sabia como aquilo poderia terminar. Ela continuou até chegarmos à sua casa. Eu não queria me aproveitar da situação e pedi para que descesse. Ela não quis descer. Eu insisti e lhe disse que se não descesse eu não responderia por meus atos. A moça continuou com seu show.

- Está bem, você pediu.

   Fechei a porta do carro e guiei até minha casa. Se a moça quisesse me espancar depois, que espancasse. Era ela quem havia pedido por aquilo.

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