14 de novembro de 2007

A vida é podre (e fede)

Eu era pequena. Eu via os comerciais bonitos, as imagens bonitas, a palavra "vida" correndo solta, bonita e sorridente. Amarela. Eu achava que a vida era linda, maravilhosa, perfeita. Eu achava que só pelo fato de ver o pôr do sol a gente deveria ser feliz. Aí eu cresci. Descobri que tudo aquilo era balela. Era pra vender a vida na TV. A vida era marketing. Na TV era ela muito mais linda, perfumada, colorida. Até que eu cresci e vi que os prédios eram muitos e as pessoas eram uma multidão de bonecos lego sem vida, que se estressavam, que trabalhavam cinco dias por semana, brigavam e não podiam comprar aqueles carros, aquelas mansões, nem ficar bonitos como na novela. Eu olhei pro céu nublado ameaçando chuva e bradei: Mas que merda é essa? Cinqüenta anos trabalhando e se fodendo pra ver as árvores balançando e um pôr do sol no fim do dia, acompanhado de dores na coluna e câncer de mama? A vida é feia. A vida tem os peitos caídos, celulite, gonorréia e mau hálito. Eu tenho nojo dela. Eu quero correr pra longe mas ela me persegue com seu Chevette velho soltando fumaça preta pelos canos. O que dói mais é que ela persegue só pra assustar, mas não atropela.

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