31 de julho de 2007

Meia-noite e meia. Julienne havia tomado pó de guaraná para se animar a fazer o relatório de estágio. Julienne estava sem sono e sem vontade de fazer o relatório. Pierre não possuía internê em casa e haviam cortado a internê de seu trabalho. Assim, solitária, Julienne passava a madrugada acordada com um Skype vazio. Só veria seu melhor amigo no horário do almoço, quando comeriam um sanduíche sentados talvez em um banco do mercado e dariam muitas risadas, como se aquele fosse um grande banquete. Julienne não tinha muitos motivos para sorrir. A vida dela era de longe aquilo com o qual sonhava. Mas Julienne ganhava novo fôlego a cada vez que via Pierre ou quando encontrava seu grande amor, Otávio Augusto. As aulas felizes, à noite, ela sabia que no final não lhe tornariam mais sábia. Talvez a tornariam mais feliz. No fundo Julienne sabia que tinha muitos motivos para levantar pela manhã. Não os motivos que ela tanto almejava, mas motivos simples e que a faziam sorrir. Julienne ouvia Magic Numbers. Fazia tempos que não ouvia. Mas ao reencontrar uma amiga que havia ido ao show, ficou com saudades e resolveu ouvir. As mãos de Julienne estavam geladas. Mãos geladas coração quente, já dizia a cantada mais nojenta e antiga que os safados gostavam de usar. Mas no fundo fazia sentido. O coração de Julienne estava sempre quente e sempre estaria, pois ela vivia cercada de pessoas que a amavam. Julienne não gostava de dias muito frios. Seu apartamento era frio e ela sempre acreditou sentir mais frio que as outras pessoas. Mas Julienne, apesar da teimosia, irritação e tantos outros defeitos, era uma pessoa quente e carinhosa. Com quem lhe conviesse é claro, já que não dava calor de graça. Era preciso que a cativassem. Calor e carinho não são coisas banais que damos para os primeiros que aparecem. É por isso que existem os segundos e os terceiros. Amigos, colegas e conhecidos. Julienne sempre acreditou em mérito. Para ganhar as coisas precisamos merecer. E sempre haverá um grande trabalho para quem ganha as coisas facilmente. Julienne preferia se esforçar para ganhar as coisas, embora fosse difícil às vezes. Em seu íntimo, naquele instante em que se via envolta por vários pensamentos, Julienne acreditou que era a pessoa mais feliz do mundo, pois sempre existiria alguém para amá-la. Tomou um chocolate quente e foi dormir.

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