Igualdade
É um novo dia.
Você vai pro trabalho. Você já chega cansado e lembra: Lembra, lembra, lembra que todo dia é assim. Acordar, comer, escovar e cuspir.Você lembra de todas coisas inúteis inventadas e como...
Como? De uma hora para outra elas passaram a ser úteis.
Você pensa na invenção do hambúrguer e fica imaginando se foi uma boa invenção mesmo.
Você sente frio, sente calor e analisa: droga, tempinho de merda!
Chega a parte em que você sabe que se estivesse casado, assistiria ao Jornal Nacional e sua mulher gritaria com as crianças, que às dez da noite ainda não teriam ido dormir.
Você pensa em como vai ser daqui a dez anos e chega à conclusão que vai ser igual.
Você vai levantar, molhar a cara velha e ir pro trabalho, o mesmo trabalho, talvez em outro lugar, mas a mesma rotina maçante.
E você vai pensar em uma época em que ainda conseguia rir. E vai perceber que os anos passam mas você não ganha aumento.
Então, um belo dia depois do trabalho você vai ficar analisando sua vida de frente pro espelho do banheiro e vai ver que foi só mais uma vida, como todas as outras, de todo mundo. Porque você não foi rock-star, nem ator, nem deputado, nem popular, nem inventar uma música idiota e grudenta você foi capaz. Você foi um número. Então você vai perceber a inutilidade humana e rezar pra que exista céu e lá seja um lugar bom.
Você deita na cama e dorme, sonhando com o céu, sem pensar na inutilidade de acordar no outro dia.
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