15 de janeiro de 2007

Conversa com Deus

Eu sei Deus, é até pecado estar aqui nessa igreja. Não acredito muito em você, mas continuo, às vezes, vindo até aqui para me certificar de que realmente tenho razão em não acreditar. E peço, olhando sei lá eu para que direção, ajuda para meus problemas. Não são muitos, eu sei. Há milhares de pessoas com problemas piores que os meus e ainda assim, entro aqui, hipócrita que sou, para que me ajude, mesmo duvidando de sua capacidade. Porque, Deus, se você realmente tivesse algum poder, já teria feito alguma coisa por mim, mas até agora, nada! Como você quer que eu acredite que exista, ainda mais desse jeito torto aí que você quer. Como posso acreditar piamente sem nem ao menos ter visto, ter tocado, ter ouvido falar de alguém que te conhece? Ah, não sei não, hein!? É difícil. Ser humano é muito difícil. Ter que acreditar em cada coisa... Para você deve ser fácil. Você fica aí em cima, Todo-Poderoso e eu aqui, com contas para pagar, problemas para resolver, sonhos morrendo e eu sem poder fazer nada. Não deveria ser assim, deveria? Todo mundo precisa de sonhos, Deus. Mas, se não os realizamos, a gente sofre. Ô!! E como sofre! Você lembra que eu, quando criança, vivia te pedindo coisas? É... Ainda me lembro daquela viagem que nem pude fazer com a turma. Você deveria ter vergonha... Fazer uma criança chorar do jeito que eu chorei. Esse tipo de coisa não se faz. Sim, porque quando se cresce, dá para aguentar muita coisa. Mas criança não, Deus! A gente cresce e aquela dorzinha passa, mas ponteia o coração de vez em quando. E os meus filhos agora, Deus. Também não posso pagar viagens para eles, isso deveria ser proibido. Nenhuma criança deveria passar vontade, você não acha? Eu acho. E acho que você também acha, porque quem cala consente. Você nunca fala nada, parece até que não quer fiéis. E é por isso que não sou fiel. Você nem me dá bola, penso que estou perdendo o meu tempo aqui nessa igreja, falando para alguém que não está com paciência para ouvir nem para resolver meus problemas... Mas, continuando... Sabe Deus, hoje eu vi a vizinha com um vestido novo, ela vive comprando coisas e sai, toda pomposa, achando que está arrasando corações, mas eu sei, Deus, que ela é uma mulherzinha de quinta, eu sei que ela não vale nada, você sabe, afinal, diz você que tudo vê. Ela deveria era levar uns cascudos da vida, não acha? Eu acho. Sair daquele jeito na rua, toda maquiada e com aquele vestido curto. É por isso que nenhum homem se aguenta só com a própria mulher. É por causa desse tipinho aí. Eu sei que não se deve fazer fofoca dos outros, mas você é Deus, então por favor, dê-me um desconto, é que eu odeio injustiça, essas mulherzinhas que roubam o marido das outras... Foi uma assim que roubou o meu marido: toda maquiada, com uma saia menor que as saias da minha filha de sete anos. Elas aproximam-se devagar, rindo-se, fazendo tipo, olhando de canto. Movem a boca devagar e com sensualidade quando falam e, quando você vê, lá se vai o seu marido, arrumando as malas para ir morar com a vadia. Oh! Perdão, Meu Deus.. Sei que não devo utilizar esse tipo de palavreado com você, mas não me contenho. É muita sem-vergonhice nesse mundo, Deus. Você deveria cuidar melhor dessas mulheres fogosas, poderia arrumar um marido para que elas sossegassem e não fossem roubar o marido das outras... Nunca esqueço essas amarguras do coração, Deus. As amarguras de infância e as amarguras da vida adulta. Tanto sofrimento. E eu nem sei porque estou falando essas coisas para você, afinal de contas, você deve estar aí em cima rindo de mim, não está? Preciso voltar para casa, preparar o almoço das crianças. A mais velha deu para não me respeitar mais, Deus. Veja só você. As meninas de hoje estão cada dia mais soltas, mais independentes. Não duvido que ela se torne uma dessas mulheres fogosas de que lhe falei. Por favor, se ela enveredar por esse caminho, traga ela de volta para a luz. Não quero filha minha abrindo as pernas e deixando que os prazeres carnais tirem a sua inocência. É tão triste ser enganada, não quero que ela passe por esse tipo de coisa. Porque eu passei, só eu sei como sofri nas mãos dos homens. Até casar, o quanto fui usada, Deus, só eu sei... Digo, eu e você sabemos... Perdoe-me o palavreado, mas, eu abria as pernas e acreditava que estava abrindo o caminho para a felicidade, mas depois, eu fechava as pernas e a felicidade ia embora também. Só fiquei feliz quando casei-me com o Rodolfo. Bom moço o Rodolfo... Mas você sabe, com o tempo, a preciosidade que eu tinha no meio das pernas já não era tão preciosa assim... A gente envelhece e, bem... aquelas coisas envelhecem também. Então o Rodolfo encontrou uma mais novinha. Me perdôe, Deus, mas eu sinto muita falta dessas coisas, entende? Nunca consegui viver sem essas coisas. Mas na minha idade, já viu. É difícil encontrar de novo alguém para poder... enfim... Não sei se é pecado, mas eu precisava fazer algo a esse respeito. Não me julgue, Deus, não faça isso por favor. É que eu não sou freira, nem nunca tive vocação para tal, mas... Eu comprei um brinquedinho... Foi sem a menor intenção. Apenas acompanhava uma amiga a um sex shop, pois ela queria incrementar o casamento, você entende, a chama estava apagando... O caso é que acabei comprando um brinquedinho para mim também. Não vou citar nomes, estou em uma igreja, afinal, mas você entende do que estou falando... Eu precisava de algo para suprir a falta... da coisa, daquela coisa entende? E afinal, a culpa não é minha, você é que não segura o fogo das mulheres insaciáveis e elas acabam roubando os nossos maridos... Eu recorri a esse acessório em uma atitude de desespero. Vivo em um tédio interminável e meus filhos estão crescendo e me abandonando... Oh! Está tarde, preciso ir para casa fazer o almoço. Fico aqui, perdendo meu tempo falando com você, que nunca me ajuda e ainda deixo de fazer meus afazeres... Ora, quanta imbecilidade! Preciso ir mesmo, estou atrasada! Passar bem! Em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém!

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