3 de agosto de 2008

Inércia - um texto em homenagem à minha eterna fossa cotidiana.

Eu perdi quase tudo que eu tinha. Eu perdi quase tudo que eu tinha dentro de mim, porque financeiramente falando eu nada tenho. Mas eu perdi tudo aquilo que sobrava.

Perdi a vontade de levantar da cama de manhã cedo e perdi a vontade de sair.

Perdi também a vontade de lutar e a vontade de conquistar algo.

Perdi a vontade de sorrir e perdi a vontade de beijar.

Perdi a vontade de caminhar e nem ao menos pra acenar eu tenho forças.

Perdi o chão e perdi os sonhos.

Perdi a vontade de procurar emprego.

Perdi a vontade de comer e de beber.

Perdi a vontade de perder, pra não precisar encontrar.

Passei a viver num estado de sonolência e de fuga da realidade.

Sim, eu estou doente.

Não, eu não vou procurar ajuda, porque perdi a vontade de conversar.

Eu gastei o meu tempo e o dinheiro dos outros em busca de nada, realizando nada, fazendo nada.

E o que sobrou, em meus 23 anos, não sei dizer. Não sou nada e não tenho nada, nem uma profissão, pois gastei quatro anos dormindo enquanto o tempo passava.

Eu não tenho nada pra acrescentar pra ninguém, infelizmente.

E minha mãe não lê o meu blog, mas se ela lesse iria me chingar, ou dizer que eu estava precisando levar uns tapas, igual fez a vida toda e eu iria dizer: desculpa, foi mal aí viver do seu dinheiro por incapacidade de conseguir o meu.

Num ato de extremo desespero e infantilidade eu diria que eu não pedi pra nascer mesmo e um(a) otimistazinho(a) de merda diria "não fale assim, fer" e tentaria, sem resultado, encontrar algo no qual eu realmente sou boa.

Estou cansada de ser eu e juro, se eu pudesse fazer uma lavagem cerebral ou nascer de novo queria, de todo o coração, ser uma Poliana.

Felizes os sonhadores, os otimistas, aqueles que mesmo sabendo que algo tem 80% de chances de dar errado conseguem ter uma pontinha de esperança.

Eu tenho o carma de ser do jeito que eu sou pra servir de exemplo pros outros de como eles não devem ser.

Ironia ou não, eu tinha tudo pra me sair bem na vida. Mas, em algum momento alguma coisa aconteceu e deu tudo errado.

Zakkum é muito bom. E essa música parece caber neste meu momento.

Um comentário:

Fernando Haas disse...

Já faz um tempo que leio seus posts, como achei o blog não lembro mais, mas lembro que inicialmente seus escritos me chamaram atenção; o de hoje ainda mais. Interessante, que apesar dos seu relato sincero e incomodo, ele acaba por dar uma sensação de ter companheiros no mundo que sente coisas similares!